quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Antigo Mosteiro em Arcas

Em muitos templos, restos dispersos confirmam a antiguidade que os próprios documentos declaram: silhares pintados, ornamentos românicos, nichos religiosos, fragmentos de telhas, azulejos, etc. Refiro-me, particularmente, à actual Capela de Nossa Senhora das Seixas, situada a Sudeste da povoação de Arcas (freguesia de Sever), que, no meu entender (pelos materiais que vemos nas imagens e pela análise de dois documentos que passo a divulgar), terá sucedido a um antigo mosteiro.

Vejamos esses documentos:

A + W FLORENTIA VIRGO XPI VIX ANN. XXI VITA BREVI EXPLEVIT TEMPORA MVLTA OBDORMIVIT IN PACE IESU QVEM DILEXIT KAL. APRIL. ERA DCXXVI

Esta epígrafe é referida pelo Padre Jorge Cardoso no século XVII (infelizmente desconhece-se o seu paradeiro) e segundo Mário Jorge Barroca (Epigrafia Medieval Portuguesa, 2000), traduz-se da seguinte forma: Em 1 de Abril de 588, ano 626 da Era de César, adormecia no Senhor a Virgem de Cristo, Santa Florência, monja do Mosteiro de Arcas, cuja festa litúrgica se celebrava anualmente em 1 de Abril.

Além da inscrição, o Padre Cardoso descobriu também no original de uma escritura de doação feita por Tedon Fafes, no dia 4 de Abril de 1129 (no Cartório de São João Tarouca), o seguinte: Sit itaque vestra praedicta hereditas cum ecclesia Sta. Maria de Archas ubi antiqúe fuit monasterium Archense et mortua est inde abatissa Columba Osoriz cum sororibus suis per manus cujusdam mauri Almazoris (Assim será vossa a dita herdade com a igreja de Santa Maria de Arcas onde antigamente existiu o mosteiro arquense e onde foi morta com suas irmãs a abadessa Columba Osoriz, pelas mãos de um mouro Almansor).


Com estas informações, não só temos como certo que, em Arcas, no século VI já existia um mosteiro (talvez destruído pelos Muçulmanos), como também no século XII existia uma igreja com a invocação de Santa Maria de Arcas, o que me leva a supor que ambos os templos permaneceram em épocas diferentes no local onde hoje se encontra a Capela de Nossa Senhora das Seixas.

Publicado no Jornal Beirão de 30/10/2009

domingo, 22 de março de 2009

Arcas


Arcas é com certeza uma das terras mais antigas do concelho de Moimenta da Beira. Há quem pense que Arcas é uma variante popular de Orcas o que não nos parece certo. O dicionário Lello diz que “Arcas é um monte de pedras que serve de marco”. Leite de Vasconcelos por sua vez ensina-nos que Arca “é um marco especial usado pelos romanos nos campos e formado de quatro paredes, à maneira de guardas de um poço”.

Algumas vezes o povo teria chamado orcas a arcas e não o contrário, mas deste contágio semântico veio posteriormente a gerar-se de facto a confusão entre Orcas e Arcas. Em Portugal há treze lugares chamados Arcas e seis chamados arca, arca não será o singular de arcas mas sim o plural neutro que em latim termina em (a) e é vulgar ainda no português como se vê no fruto e fruta ou lenho ou lenha; a forma arca plural paralelo a arcas poderá traduzir maior antiguidade.

Sendo assim Arcas nasceu no lugar que os romanos assinalaram levantando pedras para marcar uma divisão territorial. É de notar que em Arcas existe a capela de N. Senhora das Seixas, talvez vindo do latim, “saxa” que significa seixos relacionado com pedra por isso como N. Senhora da Lapa próximo de Lápis e de Lápide igualmente relacionados com a ideia de pedra.

Mas “Seixa” significa também pomba branca e nesse caso parece relacionar-se com Santa Comba Osores ali martirizada sendo Comba forma reduzida de Columba, palavra latina que significa pomba. No entanto seria um pouco estranho que no lugar a toponímia conservasse a forma Arcas e a Agiológio (nomes de Santos), a forma Seixas o que se torna aceitável por os dois termos terem aparecido em épocas distantes uma da outra.

( in livro: “Os oito concelhos de Moimenta da Beira”- A. Bento da Guia)

Moimenta da Beira







Moimenta da Beira
Moimenta da Beira é uma vila do distrito de Viseu e antiga região da Beira Alta, com cerca de 2 400 habitantes. É sede de um concelho com 219,75 km² de área e 11074 habitantes (2001), subdividido em 20 freguesias. As freguesias de Moimenta da Beira são as seguintes: Aldeia de Nacomba, Alvite, Arcozelos, Ariz, Baldos, Cabaços, Caria, Castelo, Leomil, Moimenta da Beira, Nagosa, Paradinha, Passô, Pêra Velha, Peva, Rua, Sarzedo, Segões, Sever e Vilar.O concelho é limitado nordeste pelo concelho de Tabuaço, a sudoeste por Sernancelhe, a sul por Sátão, a oeste por Vila Nova de Paiva e Tarouca e a noroeste por Armamar.A localização geográfica do concelho de Moimenta da Beira, entre o vale do Douro, de clima tipicamente mediterrânico e as terras altas da Beira Alta, de clima de montanha, propicia a existência de comunidades vegetais e animais variadas.

É relativamente recente a história da Municipalidade Moimentense, mas não as origens do território que constituiu o actual Município.Já quando Afonso III das Astúrias conquistou Lamego aos Mouros, começou o Povoamento do Douro com a assenhoramento de Terras pelos "presores Godos"."E os que assim entravam à posse, ficavam senhores absolutos de tudo o que à força das armas haviam tomado" Escreve Santa Rosa Viterbo no seu elucidário.
Estes "presores" criaram vilas rurais, vilares e casais que deles receberam os nomes, como Leomil, Baldos, Alvite, Toitam, Mileu, Segões, Sever e Ariz. Os habitantes de montes e castros já anteriormente ocupados, como Pêra, Caria e S. Félix, começaram a descer para os vales; deixavam as rudimentares e frágeis defesas e castrejas e trabalhavam nas "Vilas" dos novos Senhores.Nesta época começa a notar-se uma Terra até aí insignificante, cujo nome é reminiscência do lugar preferido dos povos vizinhos para cerimónias fúnebres e o culto dos mortos.

Era Moimenta, "Monumento", Mausoléu levantado em honra dos mortos

quinta-feira, 19 de março de 2009

Terras do Demo


"A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhe as virtudes e encantos sem sombras, e não serei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para o novelista e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência. Só por isto".
(Prefácio de Aquilino Ribeiro ao livro do Pe. Manuel da Gama "Terras do Alto Paiva", 1940)