domingo, 22 de março de 2009

Arcas


Arcas é com certeza uma das terras mais antigas do concelho de Moimenta da Beira. Há quem pense que Arcas é uma variante popular de Orcas o que não nos parece certo. O dicionário Lello diz que “Arcas é um monte de pedras que serve de marco”. Leite de Vasconcelos por sua vez ensina-nos que Arca “é um marco especial usado pelos romanos nos campos e formado de quatro paredes, à maneira de guardas de um poço”.

Algumas vezes o povo teria chamado orcas a arcas e não o contrário, mas deste contágio semântico veio posteriormente a gerar-se de facto a confusão entre Orcas e Arcas. Em Portugal há treze lugares chamados Arcas e seis chamados arca, arca não será o singular de arcas mas sim o plural neutro que em latim termina em (a) e é vulgar ainda no português como se vê no fruto e fruta ou lenho ou lenha; a forma arca plural paralelo a arcas poderá traduzir maior antiguidade.

Sendo assim Arcas nasceu no lugar que os romanos assinalaram levantando pedras para marcar uma divisão territorial. É de notar que em Arcas existe a capela de N. Senhora das Seixas, talvez vindo do latim, “saxa” que significa seixos relacionado com pedra por isso como N. Senhora da Lapa próximo de Lápis e de Lápide igualmente relacionados com a ideia de pedra.

Mas “Seixa” significa também pomba branca e nesse caso parece relacionar-se com Santa Comba Osores ali martirizada sendo Comba forma reduzida de Columba, palavra latina que significa pomba. No entanto seria um pouco estranho que no lugar a toponímia conservasse a forma Arcas e a Agiológio (nomes de Santos), a forma Seixas o que se torna aceitável por os dois termos terem aparecido em épocas distantes uma da outra.

( in livro: “Os oito concelhos de Moimenta da Beira”- A. Bento da Guia)

Moimenta da Beira







Moimenta da Beira
Moimenta da Beira é uma vila do distrito de Viseu e antiga região da Beira Alta, com cerca de 2 400 habitantes. É sede de um concelho com 219,75 km² de área e 11074 habitantes (2001), subdividido em 20 freguesias. As freguesias de Moimenta da Beira são as seguintes: Aldeia de Nacomba, Alvite, Arcozelos, Ariz, Baldos, Cabaços, Caria, Castelo, Leomil, Moimenta da Beira, Nagosa, Paradinha, Passô, Pêra Velha, Peva, Rua, Sarzedo, Segões, Sever e Vilar.O concelho é limitado nordeste pelo concelho de Tabuaço, a sudoeste por Sernancelhe, a sul por Sátão, a oeste por Vila Nova de Paiva e Tarouca e a noroeste por Armamar.A localização geográfica do concelho de Moimenta da Beira, entre o vale do Douro, de clima tipicamente mediterrânico e as terras altas da Beira Alta, de clima de montanha, propicia a existência de comunidades vegetais e animais variadas.

É relativamente recente a história da Municipalidade Moimentense, mas não as origens do território que constituiu o actual Município.Já quando Afonso III das Astúrias conquistou Lamego aos Mouros, começou o Povoamento do Douro com a assenhoramento de Terras pelos "presores Godos"."E os que assim entravam à posse, ficavam senhores absolutos de tudo o que à força das armas haviam tomado" Escreve Santa Rosa Viterbo no seu elucidário.
Estes "presores" criaram vilas rurais, vilares e casais que deles receberam os nomes, como Leomil, Baldos, Alvite, Toitam, Mileu, Segões, Sever e Ariz. Os habitantes de montes e castros já anteriormente ocupados, como Pêra, Caria e S. Félix, começaram a descer para os vales; deixavam as rudimentares e frágeis defesas e castrejas e trabalhavam nas "Vilas" dos novos Senhores.Nesta época começa a notar-se uma Terra até aí insignificante, cujo nome é reminiscência do lugar preferido dos povos vizinhos para cerimónias fúnebres e o culto dos mortos.

Era Moimenta, "Monumento", Mausoléu levantado em honra dos mortos

quinta-feira, 19 de março de 2009

Terras do Demo


"A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhe as virtudes e encantos sem sombras, e não serei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para o novelista e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência. Só por isto".
(Prefácio de Aquilino Ribeiro ao livro do Pe. Manuel da Gama "Terras do Alto Paiva", 1940)